sábado, 29 de setembro de 2007

Uma questão de cultura

Por Gabriel Dudziak

Há uma estranha lógica no que diz respeito às torcidas de clubes de futebol. Ora, isso não é novidade para ninguém, mas o que espanta é a reação delas em dois casos de trocas de técnico, um na Inglaterra e um no Brasil.

Na Terra da Rainha o exemplo não teria como não ser o Chelsea e a demissão/desquite do técnico José Mourinho. O português enfrentava pressões de todos os lados dentro do clube e os resultados no Campeonato Inglês e na primeira rodada da Champions League, que mesmo longe de estarem ruins, ainda não perfaziam o que se esperava de uma equipe como o Chelsea, acabaram minando ainda mais o seu trabalho frente ao Blues.

Assim, Mourinho deixou o Chelsea por meio de um "acordo" com a diretoria. Para seu lugar foi chamado o cartola, que já fez as vezes de técnico em Israel, Avram Grant. Não me lembro o dia exato da semana em que tal fato ocorreu, contudo, sei que dois dias depois a torcida do Chelsea organizou um ato contrário à decisão da diretoria para mostrar a sua insatisfação perante a demissão de um treinador com números únicos na história do clube. Só pra citar um fato, José Mourinho nunca perdeu em Stamford Bridge em campeonatos ingleses, somando 64 jogos de invencibilidade na casa do Chelsea.

Pois bem, eis que na última quinta-feira o Botafogo, sério candidato à vaga na Libertadores, perde de forma vexatória do River Plate tomando três gols em menos de 20 minutos e dá adeus à Sul-Americana. Na chegada ao Brasil o que a torcida do Botafogo faz com o técnico responsável por levar o alvinegro a uma posição de respeito no cenário do futebol nacional? Pede sua saída, o xinga e atira pipocas e calcinhas (?) no elenco todo. Para responder se a atitude foi justa, independentemente da selvageria intrínseca, nos façamos a pergunta: Quem era o Botafogo antes de Cuca? Certamente não era um time que brigava por Libertadores, mas sim contra o rebaixamento.

A despeito de teorias conspiratórias e de cunho sociológico sobre primeiro e terceiro mundo, bem como questionamentos sobre se de fato a culpa recai nos treinadores, o que fica é o contraste de atitudes. O agradecimento ao trabalho prestado em forma de protesto contra a saída e a raiva desmedida desmemoriada de passado contra quem foi um dos grandes responsáveis pela alegria de outrora.

Seja como for o fato é que nem Avram Grant no Chelsea e nem Mário Sérgio no Botafogo serão capazes de repetir os feitos de seus antecessores. Podem escrever!