segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Entrevista com Vanderlei Cordeiro de Lima

Depois de uma semana de anúncios que incomodaram a todos (e peço desculpas por isso), o BLOG DO MASSI finalmente revela sua surpresa. Esclareço que a medida de divulgar demasiadamente o post foi necessária pela figura que será destacada hoje.

Vanderlei Cordeiro de Lima adquiriu “status” de ídolo nacional após a medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, mas alguns resultados, como o ouro nos pan-americanos de Winnipeg (1999) e Santo Domingo (2003), as vitórias nas Maratonas de São Paulo, Hamburgo e Tóquio, já o credenciavam como atleta de ponta nas corridas de rua.

Graças ao contato realizado na Bienal do Livro, no Rio de Janeiro, por um grande amigo, tive a oportunidade de falar com Gabriela Salek, uma das responsáveis por gerenciar a carreira do maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima, a principal figura da última edição dos Jogos Olímpicos. A troca de e-mails possibilitou a entrevista.

Nela, o esportista revela seus planos para a seqüência da carreira, como Pequim-2008, detalha a preparação para uma maratona, coloca a modalidade acima da família e relembra a agressão do padre inglês.

Segue abaixo a entrevista:


Blog do Massi - Ao ler sua biografia, notei que existe uma enorme gratidão a algumas pessoas, como Ricardo D’Angelo (técnico) e Sérgio Coutinho Nogueira (ex-presidente da União Esportiva Funilense), mas não há qualquer menção a um grande ídolo. Você tem um ídolo?

Vanderlei Cordeiro - Tenho sim, Joaquim Cruz.

BM - Você já obteve um terceiro, três quartos e dois quintos lugares na Corrida de São Silvestre. Existe alguma frustração por não ter conseguido uma vitória nas ruas de São Paulo?

VC - Frustração não. No atletismo a gente vai se programando para viver metas. Praticamente todas as minhas participações em São Silvestre foram em períodos preparatórios para outras competições, sem que eu tivesse me preparado para a São Silvestre especificamente. É uma prova pela qual tenho muito carinho porque sabemos o quanto ela é querida pelos brasileiros, mas a gente vai fazendo o que pode.

BM - Em outros esportes é muito comum analisar os adversários. Isso existe na maratona? Como que é realizado esse estudo?

VC - Na maratona o que fazemos é procurar conhecer as características dos adversários para melhor planejar a estratégia de corrida. É isso.

BM - Em sua primeira maratona, disputada em Reims (França), em 1994, você era um dos “coelhos” do evento (atleta é contratado pela organização para melhorar a exibição, podendo, por exemplo, aumentar a velocidade na prova caso o desempenho dos favoritos esteja abaixo do esperado). Gostaria de entender o motivo pelo qual um corredor se dispõe a ajudar a ditar o ritmo de uma prova e coloca em segundo plano os resultados. Quais são os benefícios de ser um “coelho”? (Vanderlei, na ocasião, venceu a prova)

VC - Na verdade, fazer o "coelho" para uma prova interessa para o atleta quando ele está em outra fase do treinamento, visando resultado em outra prova, por isso ele não está na melhor fase de seu treinamento para concluí-la. Isso não impede de o atleta ir até o fim se estiver inteiro, e foi isso que aconteceu em Reims. O "coelho" é contratado para impor um ritmo, garantindo uma boa marca para a prova, o que dá melhor qualidade a ela.

BM - É impossível não abordar o assunto Olimpíadas de Atenas tendo a oportunidade de entrevistá-lo. No livro, senti falta da sua descrição dos momentos pós-incidente com o ex-padre inglês Cornellius Horan. Gostaria que você relatasse o que sentiu, como pessoa e como atleta. Conte-nos seus pensamentos e quais foram os danos físicos, além da perda de velocidade?

VC - No livro a intenção era não dar maior importância à agressão, mas à reação a ela: fui até o fim, numa luta pela sonhada medalha olímpica que consegui. Isso era o mais importante. Quanto ao momento da agressão, fiquei meio fora de mim, sem entender, em segundos, o que foi tudo aquilo, mas fui erguido do chão e vi à minha frente que ainda tinha a prova para terminar. Foi o que eu fiz. Senti dor na coxa esquerda, precisei fazer um esforço quase redobrado para correr e isso provoca muitas dores, mas a euforia de saber que eu estava no quadro de medalhas dava muita força. Fui até o fim.

BM - Você acha que sua experiência olímpica ajudou-lhe naquela situação? (Vanderlei havia disputado duas Olimpíadas anteriormente, em Atlanta-1996 e Sydney-2000)

VC - Tudo que já tinha vivido antes me deu força: a experiência, o apoio da minha equipe, as situações estressantes já vividas em competição. Competir põe você muitas vezes em seu limite e você tem que saber reagir a isso, ir adiante.

BM - Hoje, com 38 anos, quais são seus planos para a seqüência da carreira? Acredita que pode competir em alto nível até que idade? Pequim seria uma despedida com “chave de ouro”?

VC - No momento estou focado em treinar para buscar um bom resultado em Milão (a prova será disputada em 2 de dezembro), para lutar por uma vaga em Pequim. Não consigo pensar em parar, porque sinto muita disposição e bom rendimento nos treinos. A hora que tiver que parar, nunca vai ser definitiva, vai ser só, talvez, das grandes competições. Mas ainda quero correr muito.

BM - Com o passar dos anos, os atletas vão perdendo motivação, se cansam da carga pesada de treinamentos e desejam dar maior dedicação à família. Essa fase está chegando para você? Lembro que na biografia, em diversos momentos, Cleonice e suas filhas cobraram uma maior presença.

VC - Minha relação com minha família sempre foi essa, de sentirem minha ausência, depois comemorarem minha volta. Assim vai ser sempre, porque esta é minha rotina, esta é minha vida. Do mesmo jeito que cobram, torcem pelos resultados e assim vai.


BM - Por que a opção de começar a carreira com provas de cross-country e cinco e dez mil metros, ao invés da exclusividade em maratonas?

VC - Tudo que vem antes da maratona é importante. Você vai adaptando seu ritmo, seu treinamento a cargas e desafios cada vez maiores. Isso fazia parte do plano de longevidade da minha carreira e tem dado certo, afinal, só em maratonas eu já tenho 13 anos de carreira, sem contar o que veio antes.

BM - O que achou do recorde do etíope Haile Gebreselassie na Maratona de Berlim? (O atleta concluiu o percurso de 42km e 195 metros em 2h04min26seg)

VC - Eu sabia que ele quebraria o recorde. Eu o conheço e sei que é um atleta fenomenal.

BM - Marílson Gomes dos Santos e Franck Caldeira são os dois grandes maratonistas brasileiros no atual momento. Como você analisa o desempenho de ambos, qual tem maior potencial e existe algum outro corredor que devemos abrir os nossos olhos e que poderá surpreender em um curto espaço de tempo?

VC - Os dois são talentosos e vão dar muitas alegrias para os brasileiros. Todos temos momentos em que estamos melhores ou piores por várias situações da vida e isso pode ocorrer entre eles também. Vivemos numa terra de talentos e não duvido se aparecer por aí mais um garoto cheio de potencial. Estou, inclusive, querendo contribuir para esses talentos por meio do Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima, que está em fase de implantação em Campinas. Com esse projeto, pretendemos acolher a garotada carente, oferecer educação, esporte, cultura e ajudar na vocação de novos atletas.


OBS: Aos interessados, está no link a entrevista com Fábio Seixas, editor-adjunto do caderno de esportes da Folha de São Paulo e comentarista de F1 da Rádio Bandeirantes. http://blogdomassi.blogspot.com/2007/10/entrevista-com-fbio-seixas.html

Balanço da temporada da F1

O GP Brasil de F1 confirmou sua fama de imprevisível e consagrou Kimi Raikkonen, da Ferrari, como campeão da temporada 2007.

Hamilton errou nos momentos decisivos, como todos perceberam, mas é o melhor piloto que surgiu desde a morte de Ayrton Senna. Nem Michael Schumacher conseguiu ser tão competente em seu ano de estréia. Deixemos de lado a opinião e entremos nas informações.

Nas últimas dez corridas, Raikkonen obteve nove pódios, assim como o britânico obteve nas dez etapas iniciais. O finlandês não pontuou apenas em Nurburgring, mas venceu cinco corridas na segunda metade do campeonato.

Felipe Massa pecou pela inconstância ao longo de 2007 e só obteve três pódios consecutivos em uma oportunidade. Teve problemas em sete GPs.

Fernando Alonso, mesmo com todos os problemas na McLaren, não pontuou apenas em uma corrida, no Japão, em condições climáticas desfavoráveis.

O mais bacana do título do piloto da Ferrari reside no fato dele ser indiscutível. Caso Hamilton vencesse, todos falariam que foi protegido. Se Alonso fosse tri, o caso de espionagem seria relembrado. Com o discreto Raikkonen no topo, não há o que comentar. Sorte da categoria, que melhora sua imagem.

Para o ano que vem, as perspectivas são as melhores possíveis. Teremos mais duas corridas de rua, em Valência e Cingapura, Felipe Massa terá que conviver com a pressão de correr ao lado um campeão mundial novamente, Hamilton precisará se recuperar psicologicamente, Alonso decidirá seu destino (caso seja a Renault, mais uma escuderia deverá brigar pelo título), a BMW-Sauber deve seguir bem, devido ao seu motor, e a Red Bull evoluirá (mero palpite), já que conta com o melhor projetista, Adrian Newey.

Teremos que lamentar ainda o baixo número de ultrapassagens, que deve continuar irrisório e a presença de alguns péssimos pilotos, como o novato Roldán Rodriguez, patrocinado pela Telefônica, e que peagou para ser titular da Spyker. Brevemente deveremos ter também um indiano.

A Austrália abrirá o calendário de 2008 no dia 16 de Março. Interlagos sediará a última corrida, em 2 de Novembro.

Serão 22 semanas de pausa. Nos resta aguardar.