quarta-feira, 17 de outubro de 2007

ENTREVISTA COM FÁBIO SEIXAS

O BLOG DO MASSI segue inovando e inaugura hoje uma seção de entrevistas.

Aproveitando a semana do GP Brasil de F1, o autor desta página procurou um especialista em automobilismo para estrear o novo “quadro”.

Fábio Seixas é editor-adjunto do caderno de esportes da Folha de São Paulo, tem uma coluna semanal às sextas-feiras sobre esportes a motor no mesmo suplemento, é mestre em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra, cobriu duas temporadas de Fórmula Indy, atual Champ Car, e mais de 120 GPs de Fórmula 1. É comentarista da Rádio Bandeirantes e ainda encontra tempo para postar no Blog do Seixas.

Seguindo seu lema, o BLOG DO MASSI optou por fugir do padrão e colocou a maior categoria do automobilismo em segundo plano. Em entrevista por telefone, concedida no último dia 12, Seixas falou sobre o fenômeno dos blogs, explicou o funcionamento das transmissões no rádio, comentou de outras categorias e até de Olimpíadas.

Segue abaixo a entrevista completa:


BM - O sucesso dos blogs é algo recente. Como você vê a expansão deste meio? Qual a demanda do leitor?

FS - O blog é uma ferramenta fácil de se fazer, você tem acesso em sites e portais. É uma coisa fácil e que vai muito de opinião. É preciso entender a diferença entre blog e site. Existem internautas que não entendem essa diferença. Se você não quiser fazer um blog de notícias, pode fazer só de opinião, sem um valor informativo e isso explica porque têm surgido tantos blogs.

BM - Qual o retorno que você tem obtido com o BLOG DO SEIXAS?

FS - Pra quem faz o blog o mais bacana é a interação com o leitor, o que você não tem no jornal ou no rádio. Você posta e logo depois tem o comentário. E muita coisa que coloco são dicas de pessoas que entraram no blog. As pessoas mandam e-mails com dicas de fotos, YouTube ou notícia para que eu comente.

BM - E o público é o mesmo?

FS - É mais amplo, pois na coluna é preciso comprar ou assinar um jornal. Já o blog é aberto. Tenho muitos leitores de fora do país, dos Estados Unidos, Europa, Japão. Com o tempo, você vai conhecendo até os leitores que te escrevem. Tem sempre gente nova, tem aqueles que olham seis meses o seu blog e depois trocam. É engraçado que vou conhecendo até se os leitores mais fiéis estão cansados daquilo que escrevo.

BM - Entrando em outro meio de comunicação, qual a audiência média de uma transmissão de F1 no rádio?

FS - Para ser sincero, não sei. Já soube, mas há uns três anos q não acompanho a audiência. O que sei e posso dar como impressão é que quando comecei no rádio não imaginava que tanta gente ouvia. Pensava, por que tem um cara que vai ouvir uma corrida na rádio? Mas tem aquele cara que está no trânsito, indo ao parque, passeando, visitando parentes, que está na rua. Tem muita gente que ouve em casa, que gosta da transmissão. E tem também aqueles que não gostam do Galvão e deixam a televisão sem som.

BM - Como que funciona a transmissão dentro do estúdio? O narrador fala o que vê nas imagens da Globo, vocês acompanham os tempos através do computador...

FS - A transmissão começa quarenta minutos antes da corrida. Normalmente chegamos com uma hora e meia de antecedência, conversamos, trocamos idéias para saber o que está acontecendo, o que aconteceu no treino. Durante a corrida, fazemos a transmissão no estúdio da Band News FM, temos a imagem da televisão, som ambiente direto do circuito, cronometragem através do F1.com, além do Júlio Gomes (repórter), que é o nosso apoio para a informação de momento. Por exemplo, o Massa abandonou, então é o Júlio quem corre atrás e cobre o motivo do abandono.

Também temos uma troca com o ouvinte, que funciona como o blog. Se acabo de falar uma besteira ou faço uma pergunta, instantaneamente recebo e-mail de ouvintes te corrigindo.

Uma coisa que comecei a fazer este ano, que é curiosa, é que tem muito amigo que mora fora do país e que acompanha a transmissão pela “tevê” de seu país. Então, fico sempre ligado no MSN desses caras. Essa é uma ferramenta nova, porque vem informação, por exemplo, que a Ferrari teria que ter colocado pneus de chuva na China e que a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) ia puni-los e obrigá-los a parar. Essa notícia eu soube por um amigo que estava acompanhando pelos Estados Unidos e mandou a informação. É algo a mais que ajuda na cobertura.

BM - Em conversa com alunos da PUC-SP, você disse que aceitou o cargo de editor-adjunto do caderno de esportes na Folha de São Paulo para que pudesse realizar alguns projetos especiais posteriormente. Quais seriam esses projetos?

FS - Acho que fiz tudo em termos de reportagem de Fórmula 1. Foram oito anos viajando e mais dois de Fórmula Indy (atual Champ Car). Queria fazer alguma coisa diferente. Em qualquer cargo de chefia você tem autonomia pra fazer coisas diferentes. Tem aquela coisa de quem é repórter durante muito tempo, aquela matéria ter que ser feita “assim ou assado”. Agora, tenho a chance de escolher “o assim” ou “o assado”. No Pan-2007, já colocamos muito disso na nossa equipe. Agora estamos pensando no planejamento das Olimpíadas. É você ter um pouco de autonomia para tentar colocar no jornal aquilo que acha mais importante.

BM - Você tem mestrado em administração esportiva pela London Metropolitan University. Por que da escolha e o que aprendeu na área?

FS - Sou jornalista e acho difícil mudar de área. Estava há dez anos sem estudar e sempre achei bom estudar. Estava na hora de mudar um pouco, aprender sobre outra área. E não queria nada ligado diretamente ao jornalismo, porque queria aprender algo novo. Fiz o curso em administração esportiva, que já é uma realidade, que está crescendo muito no Brasil e que estará entre as pauta obrigatórias para quem quiser cobrir esporte daqui pra frente. Cada vez mais você vê como o negócio interfere no esporte. Foi um curso que poderia ser uma passagem para mudar de área, trabalhar em escritórios de administração esportiva, mas a intenção foi aprender mais sobre uma área que será muito “cara” a cobertura esportiva daqui pra frente, se é que já não está sendo.

BM - Aproveitando o tema de administração esportiva, o que pensa do Brasil sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada em um curtíssimo espaço de tempo? Não é um erro de planejamento?

FS - Eu acho uma “batida de cabeça”. O país tem o direito de querer concorrer. Já vimos que não precisa ter uma Olimpíada com estrutura megalomaníaca, como talvez tenha sido Sydney e talvez seja Pequim. A gente já viu o que aconteceu no passado, em um esquema mais modesto. Seria bacana que acontecesse aqui outros grandes eventos, desde que não tenhamos no país o que vimos com o Pan-Americano, um estouro de 800% no orçamento. Mas, deixando isso de lado, a intenção de receber esses eventos é bacana. E é uma “batida de cabeça” também toda essa rivalidade entre COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e CBF (Confederação Brasileira de Futebol), com as entidades pleiteando dois eventos na mesma época.

BM - Quais as diferenças na cobertura de categorias americanas, como Champ Car, IRL para a Fórmula 1?

FS - A Fórmula Indy segue a filosofia americana do esporte. Acesso total a informação, aos personagens do negócio, as estatísticas e resultados. Há um esforço gigantesco para que o jornalista tenha acesso a tudo. Era muito fácil ter acesso à informação. É algo diferente do que acontece na Fórmula 1. Na Fórmula 1, há certa soberba por ser “A” maior categoria e “O” maior esporte a motor, e com certeza é, e se utilizam disso como estratégia de marketing para beneficio próprio. O problema é que para o jornalista que cobre é complicado, porque você não tem acesso às coisas. Então, para fazer entrevista com alguém você tem que consultar a assessoria de imprensa. Para entrevistar alguém do seu lado, você já tem que ser um rosto conhecido, que freqüenta aquilo ali há muito tempo.

BM - Muitos apaixonados por automobilismo estão reticentes com essa nova categoria que mistura duas paixões mundiais: carros e futebol. Quais são as perspectivas da Fórmula Superleague?

FS - Enquanto não tiver a primeira corrida, não acredito que vá acontecer. É simples assim. Já vi lançamento de várias coisas parecidas e até agora não vi esse negócio acontecer. É que nem assunto de autódromo novo no Brasil, toda semana vão fazer autódromo em algum lugar e nunca sai do papel. Portanto, enquanto não tiver o primeiro treino da primeira corrida, para mim não existe.

BM - O mesmo acontece com a GP2 Ásia?

FS - Essa talvez saia do papel porque tem um interesse de Bernie Ecclestone por trás. Então, acho que vai ser algo mais sério.

BM - E você pode explicar quais são esses interesses?

FS - Isso é óbvio, é expandir o automobilismo pela Ásia. Veja onde a Fórmula 1 corria dez anos atrás e onde ela corre agora. Ano que vem vai ter Cingapura, depois Índia, já se fala em Dubai. A Fórmula 1 já conquistou a Europa, não precisa mais correr tanto lá. Faz parte da filosofia de entrar no mercado asiático.

BM - Desde o surgimento da categoria, muitos pilotos já foram aproveitados na Fórmula 1. Hamilton, Kovalainen e Rosberg são alguns exemplos. Como a F1 já está muito renovada e tem poucos lugares vagos, a perspectiva é que o quadro piore para os próximos anos, não é?

FS - Pelo contrário. Tem uma “turma” na Fórmula 1 que até o fim do ano que vem não passa. Você pega Rubinho, Fisichella, Trulli, Ralf que já parou agora, Webber, Coulthard. Vai ter uma renovação maior do que esse ano. E se tem uma notícia boa para os brasileiros que estão por lá, é que se fizerem um campeonato bom em 2008, as vagas devem aparecer em 2009.

BM - O Lucas Di Grassi, vice-campeão da GP2 em 2007, dificilmente terá uma oportunidade na F1.

FS - Para esse próximo ano não. Porque quem vai ter oportunidade esse ano é outro brasileiro, o Nelsinho (Piquet). Se ele continuar na GP2 ou fizer testes na Renault (Di Grassi faz parte do projeto de desenvolvimento de pilotos da escuderia francesa), acho que é um nome cotado para correr em 2009. Imagino que a renovação para 2009 será das mais amplas dos últimos anos.

BM - O Nelsinho terá vaga aonde? Possivelmente a Renault trará o Alonso de volta. Ele tem chance na Williams?

FS - Depende do Alonso. Se o Alonso não for para a Renault, a vaga é do Nelsinho. Agora, se o Alonso for para a Renault, ele terá que procurar algum outro lugar. Na Williams eu sei que é difícil.

BM - E se ele não conseguir nenhuma vaga, qual será seu futuro?

FS - Ser piloto de testes mais um ano, esperando aparecer uma vaga. Não tem muita alternativa. Se ele quiser uma vaga na Fórmula 1, ele terá que esperar. Ou senão, comprar uma vaga em alguma equipe, “uma Spyker da vida”. Mas não é o tipo de coisa que ele imagina para sua carreira.

BM - Seguir como piloto de testes não é um retrocesso?


FS - Não. Ele vai continuar na mesma. Retrocesso seria ele voltar para a GP2.

2 comentários:

felipe zene disse...

Ótima a iniciativa de entrevistas no blog.

Anônimo disse...

Muito boa sua entrevista, espero que o blog continue assim pois seu trabalho está excelente, sei que logo veremos suas entrevistas em outros lugares além do blog.