segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Entrevista Stênio Yamamoto - Parte 2

Aí vai a segunda parte da entrevista com o atirador Stênio Akira Yamamoto, agora mais voltada a curiosidades e informações sobre a modalidade:

Diferença entre pistola de 10m e 50m

10m é chumbinho. É ar comprimido. E só faz um buraco no alvo. Você vai dar 10 tiros no mesmo lugar. O gatilho tem que ter, no mínimo, 500 gramas. E o cabo não pode ser envolvente. Na de 50m, é pistola calibre 22. Arma de fogo. O gatilho é livre. E o cabo pode ser envolvente. Só que o atirador precisa ter mobilidade no punho.

Capricho

No tiro, não pode caprichar. Se você quer caprichar, vai ficar tenso, perder mais tempo de prova e acabar se cansando mais. O objetivo principal é manter a frieza. Na metade da prova, já sinto o cansaço (em uma prova são feitos 60 tiros). Os melhores só se cansam após 40, 45. Por causa da tensão e do capricho, a maioria dos atiradores favoritos nestas Olimpíadas tiveram um resultado aquém do esperado.

Auge técnico e o lado psicológico

Você leva cinco anos para atingir o auge técnico. Alguns podem levar até dez. Quanto ao psicológico, é preciso fazer um treinamento de concentração. Antes de conquistar a vaga para Pequim (na pistola de 10m), eu tava preocupado. Pensava: "não consigo crescer. Não tô conseguindo fazer um bom resultado". Mas, um aparelho antigo que tenho em casa me mostrou o contrário. Pô, o movimento tá bom. O que não tá boa é a cabeça.

A situação de outros atletas


90% deles são militares. Todos eles só fazem isso. Na Suíça, os atiradores ainda recebem armas, munição e até um salário.

Exercícios

Faço exercícios de resistência muscular. Fico segurando um peso (halteres) durante três minutos, imitando o movimento da arma. Não gosto de exercícios aeróbicos. Não aguento ficar 15 minutos em uma esteira.

Técnicos

Os técnicos dão ênfase justamente no lado aeróbico. Eles também ajudam na sua postura. Ele dá o roteiro do que você tem que fazer antes, durante e depois do tiro. Se você seguir este roteiro, a chance de repetir o movimento é grande. A busca é pela repetição.

A CBTE (Confederação Brasileira de Tiro Esportivo) contratou um técnico ucraniano (Anatolli Piddubnyi) durante um ano. O problema é que ele ficou em Resende. Só tive 2 contatos com ele. É muito pouco. Hoje eu atiro com a técnica que aprendi com ele.

OBS: Stênio não tem técnico. Nenhum atirador teve muito contato com Piddubnyi, afinal, ele estava distante dos locais de treinamento dos atletas. Foi embora pois a CBTE não tinha como arcar com seus salários.

Viagens pela seleção

A CBTE (Confederação Brasileira de Tiro Esportivo) paga as passagens e hospedagem. Esse ano, teve etapas da Copa do Mundo em Munique e Milão, mas teria que ficar 18 dias fora do consultório. Acabei indo só para Munique. Antes, já tinha tido pré-olímpico. E, logo depois, haveria os Jogos.

Premiação em competições

Não tem premiação. É amador mesmo. Estou numa briga com a CBTE por causa disso. Em 2005, fui segundo na Copa das Américas. Fiquei por meio ponto da cota olímpica. Quem trouxesse, ganharia 10 mil. Ano passado, ganhei. Mas eles não podem pagar em espécie. Para me pagarem, pediram que eu assinasse contrato com a Petrobras e isso implicaria na perda do Bolsa-Atleta. Seriam 10 mil isolados, se chegassem (Stênio ganha 18mil anuais com o Bolsa-Atleta).

Gastos

Stênio precisa de 10 caixas de munição por semana para seus treinamentos. Cada uma delas não sai por menos de 60 reais. Em competições, o atirador usa duas caixas, todas elas com 60 balas.

Uma pistola custa 1200 euros. Porém, há uma despesa extra para que você possa ter a arma. No total (arma+legalização), são gastos cerca de 5000 reais.

Os carabineiros (não é o caso de Stênio, que disputa as competições de pistola) utilizam uma bota especial, que lhes dá estabilidade. Preço: por volta de 500 reais. O brasileiro pagou 120 euros em um sapato com solado reto, que lhe aperta um pouco o pé e que tem um degrau atrás para que o atirador jogue o centro de gravidade para a frente.

Estrutura de Deodoro da Fonseca (construída para o PAN-2007)

O Brasil ganhou muito com a estrutura que foi montada, mas tem coisas que não tem como manter. O local onde foi construído é muito afastado. Não tem hotel perto. Foi sediado um Mundial lá (este ano), mas todo muito teve que se hospedar em Copacabana. De lá, são 40 minutos. É muito grande, muito bonito. Igual ao stand em Sydney (2000). Pegaram o modelo e construíram lá. É o único lugar na América do Sul que tem alvo eletrônico. O problema mesmo é que é afastado. Fica na Vila Militar, em Deodoro da Fonseca. É uma área deserta.

Diferença Pan-2007 e Pequim-2008

Pequim era mais luxuoso. Lá tem ar-condicionado, elevadores (bom para os paratletas), arquibancada com estofado nos assentos.

Incidente em Pequim

Não sabia que precisava trocar de arma. No dia antes da prova, o fabricante estava lá e foi fazer uma revisão na arma. Pedi para que trocasse a pilha da arma. Ele começou a limpar e viu um problema gravíssimo na arma. Ele disse: "sua arma não agrupa!" Isso significa que meus tiros não iriam para o mesmo lugar. Teria variação, porém, você não sabe para onde. O tiro acaba espalhando. Fiquei desesperado. Depois, me acalmei e pensei: "Foi desse jeito que fui segundo do mundo em 2007 (na Copa do Mundo de Munique e garantiu vaga nos Jogos Olímpicos). Não vou mudar agora".

OBS: Passada a Olimpíada, Stênio trocou o cano de sua arma, corrigindo assim o problema.

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Agradeço a Mariana Marçal por ter possibilitado o encontro deste blogueiro com o atirador e ao próprio Stênio, que me recebeu em seu consultório e me deu uma aula de tiro esportivo.

Um comentário:

Guilherme Giorgi Costa disse...

Brilhante a entrevista!
Peço até permissão de usar o que ele falou sobre o bolsa atleta num especial que estou elaborando sobre esse programa

Um abraço e maisuma vez parabens. Continue sempre entrevistando gente do esporte ""amador""

Guilherme